sábado, 18 de junho de 2011

Autenticidade e a Transparência na Rede


 
«A Privacidade Morreu!»

Introdução
Partindo da frase inicial, que diz que a privacidade está morta, procederemos a uma análise sucinta sobre a Autenticidade e a Transparência na Rede, tema do trabalho da unidade curricular, Educação e Sociedade em Rede do Mestrado em Pedagogia do e-Learning, da Universidade Aberta.
A Web, veio aproximar-nos, enquanto entidade individual, do mundo, o mundo digital ou cibernáutico, envolve-nos e ultrapassa toda a nossa capacidade de reacção, a informação jorra em torrentes, inimagináveis, não só em quantidade como em qualidade, tentaremos de forma prática analisar a problemática e ou problemáticas que advêm deste surpreendente manancial de informação. Atentos a essa nova realidade os países desenvolvem unidades de guerra informática, são já vários os países que dispõe de unidades especiais dentro das suas estruturas de defesa nacional que se dedicam a esta nova forma de promover os conflitos entre países.
A quantidade não significará como sói dizer o mesmo que qualidade, e é disso mesmo que falaremos, da Autenticidade da informação da sua Transparência e dos aparentes valores que promovem essa informação.

A busca do Autêntico
A questão da autenticidade, coloca-se como sempre se colocou, ao nível da informação, tal como no suporte papel, a rede, tem os seus problemas de autenticidade, desde logo pela dificuldade em controlar o seu conteúdo. Ao nível da informação veiculada por jornais online e outras instituições credíveis, o problema também se coloca, porque a manipulação da informação torna por vezes difícil perceber até que ponto a informação é autêntica.
Será sempre necessário, confirmar essa informação, um caso recente, veio mostrar que o axioma «uma mentira, muitas vezes repetida, torna-se verdade», no caso em questão, a polícia de Liberty County no estado norte-americano do Texas, recebeu uma alegada denúncia sobre uma vala comum contendo cadáveres de crianças, local situado numa pequena quinta da região, a informação depressa passou a um jornal americano, que transmitiu a noticia, aqui jogou outro problema da autenticidade, a saber as fugas de informação, que podem ser propositadas de forma a induzir determinado tipo de comportamentos.
Sem absoluta confirmação, a notícia espalhou-se pelas redes sociais a uma velocidade estonteantemente, arrastados pela pressão das notícias, os meios de informação tradicionais fizeram deslocar ao locar as suas equipas de exteriores, seguiram-se horas de expectativa, até que a polícia revelou nada ter encontrado, pedindo desculpa à família dona da quinta, declarando que tinham actuado de acordo com a denúncia vinda de uma vidente (1).
Este caso, revela bem a tese que aqui defenderemos, sobre a necessidade de confirmar a autenticidade da informação, revela também que os meios de comunicação, também prestam, maus serviços e que são facilmente manipuláveis, quanto mais sensacionalista for a informação mais fácil será a sua dispersão pela rede. E essa é uma questão importante quando se fala de autenticidade na rede, a questão dos boatos, dos mitos, dos rumores e das lendas (2), afinal de informação sem absoluta credibilidade e confirmação.
Outro caso recente, coloca a ênfase numa alegada bloger lésbica de nacionalidade síria, vítima de situações rocambolescas, produto da visão do seu país sobre a sua orientação sexual. Sucede que a rapariga era afinal um homem casado de 40 anos de idade, Mestrando da Universidade de Edimburgo (3). Também neste caso os meios de comunicação apressaram-se a dar relevância à situação, aproveitando o facto do interesse que o tema adquire no Ocidente, em especial quando se passa em países de religião muçulmana.
As redes sociais são outro universo, que coloca a autenticidade em questão, poderemos fazer a pergunta, Quem sou na rede? Sendo que a resposta não é fácil, a duplicidade para ser um facto consumado pelas redes sociais da Web, essas redes, são muitas vezes redes de pessoas e ou instituições sem outra ligação que seja essa. Simular perfis, criar uma entidade, é na rede uma das facetas mais preocupantes, quem se esconde por de trás de um perfil de uma fotografia, os perfis falsos são já uma parcela importante da equação. Veja-se o caso de um famoso jornalista espanhol, especialista em infiltrações no submundo do crime e do terrorismo, dá pelo nome de «António Salas», nome fictício, utilizou ainda inúmeros perfis falsos, por exemplo como «Muhammad Abdallah (4)», durante as operações que o levaram ao mundo da prostituição (5), ao mundo das organizações de extrema-direita (6) e mais recentemente ao mundo do terrorismo jihadista muçulmano (7). Neste caso, a falta de autenticidade e a opacidade ao invés da transparência, o jornalista fez as recolhas através de equipamentos ocultos de recolha de som e de imagens, ajudaram o jornalista infiltrado a obter algo próximo da verdade, uma verdade que é a do seu autor, que nunca saberemos se foi ou não manipulada nas suas conclusões (8).
A informação pessoal está disseminada pelos quatro cantos da Web, os utilizadores comuns, tem muito pouco ou nenhum cuidado com a publicação que fazem dos seus dados pessoais, informações relevante, fotografias e vídeos, numa completa orgia de desinformação e falta de cuidado, daí resultando que a Web já por si possuidora de problemas de segurança, vê essa mesma segurança comprometida por utilizadores irresponsáveis e pouco cientes dos problemas que os seus comportamentos pouco cuidadosos podem acarretar.
O grande problema da falta da autenticidade e transparência na rede, prende-se com factos endógenos e exógenos, porque se falamos de uma Word Wide Web, poderemos também falar de restrições a essa rede mundial, cortes que transformam essa rede numa rede privada de um país, em que aos utilizadores não é permitido o acesso completo a todo o conteúdo da rede (9), a evolução da rede permitirá um controlo cada vez mais apertado, cuja intenção é claramente a manipulação da informação, nem que para isso se tenha de criar uma rede nacional (10).

 Transparência, Garantias e Controlo, realidade prática!
Neste capítulo, muito há para dizer, desde logo que, como ficou demonstrado no capítulo anterior, sem autenticidade não há transparência que resista. A informação constante na rede, deverá sempre ser confirmada uma e outra vez, recorrendo a outros meios de comunicação. O que nos leva ao problema a que chamaremos «Caso do Copia e Cola», mais vulgarmente disseminado como plágio (11).
Este problema é tão mais grave quanto se sabe que é uso vulgar nas escolas o recurso à rede, para fazer «trabalhos» escritos, em que se utiliza o trabalho produzido por terceiros para num repente, sem grande esforço produzir o tal trabalho chato para aquela disciplina tal, que ninguém gosta, sendo muitas vezes os professores os maiores impulsionadores deste tipo de comportamentos com a vulgar frase «é só ir à Internet». O problema está em que não é só ir à Internet, existem uma série de boas práticas, que deveriam ser seguidas, até por uma questão de transparência autoral, urge a mudança de mentalidades, e se o problema é por si grave quando estamos a falar dos primeiros níveis de ensino, mais grave se torna no caso do ensino superior, ocorrência que levou inclusive à demissão do ministro alemão da Defesa (12).
Em Portugal (13), são já algumas as referências ao plágio como uma ocorrência nefasta, que se propagou ao ensino superior a uma velocidade estonteante, propiciada pela grande auto-estrada da informação, não queiramos com isto dizer que o problema do plágio se possa resumir ao fenómeno da Web, não, apenas a facilidade e a quantidade de recursos, presentes na rede, serviram para de algum modo dar mais e melhores ferramentas para concretizar essa utilização da informação. O problema aqui é um problema moral e relacional, que reflecte várias carências em termos de formação moral, cívica e deontológica por parte dos utilizadores, situação que nos fará pensar, no caso do «copia e cola» a que anteriormente aludimos e se não será de todo importante equacionar no ensino, logo a partir de bem cedo os utilizadores da Web a pugnar por regras e boas práticas, deixaremos este ponto aberto a futuras discussões e estudos.
Que garantias temos? Quem controla a rede (14)? Questões que se levantam, quando pensamos na plêiade de informação que voga pela rede (15). A questão dos direitos de autor, as licenças e os certificados SSL, levam-nos a pensar que a necessidade de certificação digital, levará a rede num futuro já próximo a trilhar novos caminhos. Estamos em crer que sim e tudo aponta para que os certificados digitais possam no futuro condicionar a utilização da rede. Cada utilizador terá credenciais digitais que o autenticarão na rede, o controlo não será feito pelo IP da máquina ou da ligação, que sendo dinâmico está sujeito a mudanças, antes se utilizara o MAC Adress, que funciona como a matricula de um automóvel, mas isso são questões que o futuro irá com certeza trazer.
Actualmente os problemas de segurança são imensos, apesar de um trabalho imenso que os gestores de redes e autoridades nacionais dos vários países (16), executam, para tornar a rede mais segura, o facto é que a Web, permanece escura, ou antes com muitas áreas escuras, o controlo é deficiente e não existem claramente estabelecidos parâmetros que estabeleçam garantias para os utilizadores, sendo que os mesmos falham muitas vezes em entender os deveres que acarreta a utilização dos meios da Web. Um exemplo disso é a constante violação dos direitos autorais pela partilha de conteúdos protegidos, filmes, música, livros entre outros, alguns países como a Espanha, com a «Ley Sinde» (17), ou França com a «Loi Hadopi» (18), tentam colmatar a praga que é a pirataria informática ao nível da partilha de conteúdos ilegais. A própria União Europeia tem legislado no domínio da Internet, quer no sentido da protecção de dados e direitos de autor (19), quer no que concerne à luta contra o cibercrime, segurança da internet e transparência nas comunicações informáticas (20).
Essa legislação tem sido transposta para os quadros jurídicos nacionais, não sem alguns atrasos e percalços, como por exemplo a chamada «ePrivacy Directive » (21), que tarda em ser adoptada pelos países membros. A rede, continua a ter grandes problemas de controlo, não existindo garantias quanto à sua fiabilidade, Levy e Castels, propõem a solução, quanto a nós utópica, de a rede se auto regular, estamos em crer que sem directivas precisas e normalizadas dentro de um contexto legislativo transnacional a auto-regulação, é uma aposta perdida. Os exemplos que existem quanto ao controlo da rede, são infelizmente exemplos que roçam o ditatorial, não existe uma preocupação em controlar os conteúdos, verificar a sua autenticidade e fiabilidade, existe apenas a preocupação de não deixar os utilizadores aceder a determinados endereços rede, os ISPs, barram esse acesso, pois são empresas detidas e ou controladas por estados que não exercem a democracia, citem-se a título de exemplo países como a Síria, o Irão ou a Arábia Saudita, com milhares de sítios Web barrados.   

Conclusão
A transparência e a autenticidade, são conceitos que não estando ausentes da rede, nem ausentes da preocupação dos vários legisladores nacionais, ainda não atingiu o perfeito estado de desenvolvimento com políticas concertadas. Identificamos com facilidade, quatro problemas essenciais, que se colocam quando falamos de «Autenticidade e a Transparência na Rede», a saber:

·         Quem sou na rede – a duplicidade do individuo na rede.
·         Plágio e fraude – os processos de apropriação do trabalho de outrem.
·         Más práticas de utilização – falhas criticas que por fraca competência técnica colocam em perigo os utilizadores.
·         Autenticidade e Transparência questionáveis – por falta de controlo e medidas legislativas efectivas.
Destes quatro problemas primários, irradiam toda uma série de problemas secundários, que se colocam ao nível de uma deficiente formação, cívica e deontológica, falhas ao nível das competências técnicas, numa experiência pioneira o Reino unido introduziu a Segurança Informática como disciplina nas escolas do Ensino Básico, uma boa solução para educar as novas gerações de utilizadores.
O problema da autenticidade e transparência coloca-se posteriormente ao nível da geoestratégica mundial e da mudança do paradigma da defesa nacional, a ciberguerra e a consequente intoxicação e manipulação informativa, fazem parte das novas estratégias de defesa, logo minando também a autenticidade e transparência na rede. 
Em termos de quem controla a rede, o cenário anda igualmente, ainda, longe do ideal, apesar de existirem esforços por parte de autoridades nacionais dos vários países e de organizações não governamentais, assistimos a uma realidade que não denota grande controlo em termos de fiabilidade da informação, sendo que o controlo é muitas vezes exercido apenas com intuitos repressivos e violando as liberdades democráticas dos cidadãos, ainda que nalguns dos países onde tais acções são exercidas, o conceito de democracia não seja de todo idêntico ao conceito que dela temos no Ocidente. Em termos de legislação, o cenário também não será dos melhores, a legislação tende a ser dispersa e de diferente implementação, sendo a maior crítica a fazer a falta de políticas mundiais, seja sobre a forma de tratados ou convenções mundiais, é urgente existirem políticas transnacionais que regulem de certa forma a actividade da rede.
Em suma, a autenticidade e transparência na rede, são conceitos que no formato actual encontro escolhos importantes que obstaculizam a sua concretização, as redes sociais e os ambientes virtuais, criam as condições ideais para a criação do indivíduo virtual que se transforma e transforma as suas relações com o mundo e com os outros indivíduos, não sendo propriamente algo reprovável, se contido dentro de normas legais, por vezes essa transformação acarreta problemas sociais e fisiológicos, que dão lugar a sociopatias várias e a desvios e distúrbios comportamentais.
Noutro espectro da problemática surge a fraude e o plágio, uma e outra traduzem a falta da autenticidade e transparência na rede, traduzem também falhas ao nível da formação cívica dos utilizadores e das entidades reguladoras, apesar dos esforços que são feitos para colmatar estas brechas. Ainda assim não poderemos olhar apenas para os perigos, deveremos concentrar-nos isso sim nos enormes benefícios que a rede nos trouxe e fazer para que a transparência e a autenticidade sejam reais, adoptando esses conceitos na nossa vida na rede.


Biliografia

 Lévy, P. (1999) Cibercultura. São Paulo: Editora 34

Notas: