A cibercultura é por força
um produto da eterna necessidade de comunicar da humanidade, Lévy, refere um
pouco esta ideia ao dizer que o homem da gravura rupestre, é o mesmo homem que
envia a mensagem de correio electrónico e explora o ciberespaço. A cibercultura
é o produto de um novo mundo, de um novo tipo de homem, talvez uma elite, Lévi
chamou a essa elite um movimento jovem, culto e urbano, eu acrescentaria,
financeiramente liberto dos grilhões da carência, logo com capacidade de despender
recursos.
A esta capacidade, não será
alheia a própria mutação cultural, das novas sociedades de consumo, onde a
melhoria das condições de vida permitiu um mais lato gozo do ócio, saciadas as
necessidades imediatas da sobrevivência, pode esse novo grupo, esse movimento
jovem, consignar o seu desassossego próprio da idade a tarefas que congreguem
as suas ideologias e ideários, talvez buscando-se através da busca do outro,
como diz Lévi «…A cibercultura inventa uma outra forma de fazer advir a
presença virtual do humano frente a si mesmo sem se impor pelo sentido.».
A cibercultura abre a porta
a novas interpretações, a novos paradigmas estéticos, a arte também é
cibercultura, Lévy diz que a cibercultura «…é uma mutação fundamental da
própria essência da cultura.». Nesse sentido a cibercultura reinventa a
cultura, pois é produto de várias culturas, que vão originar a cibercultura
global. Presente até na educação, através do ensino à distância, que utiliza as
capacidades técnicas do ciberespaço, a cibercultura reformula os velhos princípios
do conhecimento, ou nas palavras de Lévy «…um novo estilo pedagógico que
favorece a aprendizagem personalizada e colectiva em rede…».
No entanto a cibercultura
também tem aspectos menos luminosos, o outro lado da força, o lado negro também
é parte significativa e significante, enquanto signo perpétuo do dilema humano da
moralidade versus imoralidade, a eterna dicotomia do homem imperfeito, indigno
e dado a rasgos de generosidade extraordinários que por vezes são ofuscados
pelo mais profundo egoísmo e indiferença, Lévi traduz isso muito bem quando
acrescenta à definição de cibercultura a seguinte frase «A cibercultura dá
forma a um novo tipo de universal, o universal sem totalidade.». Definição
tanto mais extraordinária porque as clivagens, sociais, etárias e económicas
condicionam o acesso participativo ao mundo da cibercultura, não esquecendo que
os hackers e o cibercrime também são componentes da cibercultura.
Em resumo a cibercultura é
um grande repositório da humanidade e dos seus valores, das suas maleitas e
vícios, universal mas ainda não totalmente inclusiva a cibercultura é no dizer
de Lévy «… um conjunto de técnicas, materiais e intelectuais, que se desenvolvem
em conjunto com o ciberespaço».
A estonteante velocidade a que
tudo se desenrola, leva esta nova realidade cultural, propiciada por avanços
tecnológicos auspiciados pela descoberta do espaço sideral, leva a que Lévy
diga sem pejo, «…a velocidade de transformação é uma constante paradoxal da
cibercultura.». Numa clara evidência de que o que é hoje moderno é amanhã um
produto obsoleto.
Francisco Pereira
Bibliografia: Lévy, Pierre (1999), Cibercultura
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